sábado, março 25, 2006

Ed René Kivitz -


Está no meu colo já há uns bons dias essas anotações da fala do Ed René Kivitz no evento do Vida Acadêmica , realizado na Bienal do Livro.

Antes de mais nada, quero fazer um disclosure: o cara é muito amigo. Tanto é que a minha primeira escolha, ano passado na mudança para Sampa foi ir pra a IBAB (e de brinde ganhei o Arizão – outro precioso irmão e amigo).

Preciso dizer dessa minha consideração pelo Ed, pois é uma amizade construída no tempo. Uns 15 anos pra mais. Ele vinha à redação de Kerigma para compartilhar seus sonhos e projetos, e eu ficava ouvindo e vez ou outra dava uns pitacos. É impressionante como Deus fervilha sonhos em seu coração, e no ponto de ebulição, deixa subir à cabeça. E daí pra realização é dois palitos. Isso foi no começo dos anos 90. E como amizade é igual a jardim, cultivei desde então.

O outro lado da verdade nessa amizade, é que admirar um cara inteligente, empreendedor e corajoso é fácil. Um cara porém, que une essas qualidades e, talvez por isso mesmo, atue com muito desprendimento no meio evangelical - você admira ainda mais.

Como isso é apenas uma introdução ao post de sua palestra, em outra oportunidade resumiremos seus dados biográficos.

Além da Religião


Palestra realizada no evento VIDA ACADÊMICA - Bienal (14/03/2006)

Notas da apresentação de Ed René Kivitz (em formato livre)*


René Girad é um antropólogo cristão (católico) que através de seus livros nos ajuda a entender aspectos do Cristianismo que vão além da religião. Seus livros – para citar alguns são: Violência e o Sagrado, O Bode Expiatório, Longo Argumento do Principio ao Fim, Eu Via Santanás Cair do Céu como um Raio (Edição Portuguesa).

A maneira como Girard desenvolve sua análise, principia com o 10º mandamento ... “Não cobiçarás ...”. A construção é feita em cima da dominação mimética do ser humano de querer imitar seu próximo, ser igual a ele. É na quebra deste mandamento que geramos tensão e violência. E como o povo peca em conjunto, a violência é coletiva. Somos seres desejantes – sem saber por que, queremos, desejamos, ansiamos, cobiçamos ... Diferente de apetite que é um atributo natural e físico, o desejo vai além. Como um símbolo a ser alcançado, quero imitar o outro. SE eu admiro alguém, vou aspirar ser igual a ele.

A sociedade de consumo sabe trabalhar bem essa mecânica. As propagandas usam o ‘meu ídolo’ que possui, que veste, que tem algo – e esse algo eu vou desejar também. Eu quero igualmente usar, vestir, ter. Apesar de iguais – humanamente falando, nos tornamos rivais pois os objetos de desejo são escassos. A violência coletiva é gerada a partir daí. Por isso de: todos contra todos!

Deixamos de lado nosso objeto de desejo, para dar seqüência à violência. A própria violência é mimética. Não podemos nos satisfazer, então temos que partir para a violência, gerada que foi pelo ponto de tensão.

O senso de sobrevivência propôs um ponto de fuga. Ao invés de todos contra todos, escolhamos um bode expiatório. Sabemos que o problema está na sociedade, mas a forma de resolvermos essa tensão é através do sacrifício de um.

".. e que não pereça toda a nação."

No evangelho vemos em João 11:50 as palavras de Caifás (propondo a solução dentro desse arquétipo) “É melhor que um só morra, para preservarmos a nação” Poderia ser algo assim: “Vocês Os Romanos vão perder a paciência conosco e vão nos aniquilar como nação – é melhor a gente entregar esse homem, e que ele sirva de bode expiatório”.

Há um paralelo aqui com o Édipo que foi castigado e expulso. Um sacrifício para apaziguar os deuses. A paz voltou após isso.

A religião portanto constrói o altar para o bode, e toma o bode para justiça – realizando o sacrifício. O bode é assim divinizado. A sociedade estabelece o rito – o que não é a missa a não ser a repetição do sacrifício de Cristo? O rito é a substituição do fato a ser repetido.

Há nos evangelhos mitos idênticos, com uma diferença substancial – daí que faz do Cristianismo (o verdadeiro) não uma religião. E daí que o outro cristianismo (o não verdadeiro) é uma imitação de atos religiosos.

Nos outros mitos, o bode é culpado, logo sua morte é justificada e bem vinda. Esse bode participou dos problemas, dos erros e das culpas, junto com todo o povo. Então se usarmos o bode – que é igualmente culpado, não estaremos errando de todo, e ainda por cima vamos nos livrar da culpa.

Jesus é o Cordeiro

É exatamente aqui que não podemos nos perder! Por que Jesus não é bode – é Cordeiro! Ele não tem culpa! Diferente do bode ele é inocente! E se o bode fazia parte do povo culpado, já não podemos usar a figura com Jesus, pois ele é inocente como um Cordeiro.

O salmista interpreta e antecipa esse sentimento de Cristo à beira da morte: “Fiz coisas boas, sinais vários. Por que o povo me odeia?”

Em nenhum momento Jesus vem como bode, mas sim como Cordeiro, por ser sinônimo de limpeza, de pureza. E assim se repete ao longo do livro de Atos: “Vocês mataram um inocente” era a pregação recorrente. E mais (no evangelho completo) Deus ressuscita o inocente!

A morte, a última das desgraças, estava associada ao destino imposto pelos deuses. Morrer significava perdedor. Perdedor era o errado, o culpado. Veja o exemplo dos duelos medievais e até alguns séculos atrás: não era para ver quem era melhor (com a espada, como tiro), era para literalmente deixar nas mãos de Deus que a justiça seria feita à maneira dEle!! Deus não ficaria neutro, penderia para algum dos lados, e com certeza para o lado certo!

Davi e Golias foi um duelo. Como Davi poderia perder? O imperador romano já vaticinava: “Quem vai se levantar contra Roma? Os deuses estão do nosso lado!”

Vemos que com Cristo, as coisas mudam. Primeiro por Ele ser inocente. Depois por Deus te-Lo ressuscitado, e em terceiro lugar, porque Deus não estava do lado do algoz. Diferentemente do principio do bode expiatório, Deus se solidariza com a Vida.

Todo sacrifício em nome de Deus é errado

Girard cita I Coríntios 15 como um argumento de que Satanás não tinha idéia do que significava a morte de Cristo, nem da sua ressurreição. Ele foi pego de surpresa. Satanás não participaria do processo do bode expiatório se ele entendesse que não era um bode expiatório – e sim a morte e a ressurreição do Cordeiro inaugurando um novo tempo. Não vai ter mais sangue. A partir de agora Deus vai ficar do lado da vítima. Quem mata, mata Deus. Todo sacrifício em nome de Deus é errado! Porque o sacrifício vitima alguém, e Deus não está mais do lado do sacrifício porque essa era cessou – acabou!

Não dá para sustentar um processo de vitima e de sangue (sacrifício) em nome de Deus ou da religião, pois Deus não quer mais sangue. E Ele vai sempre ficar do lado da vítima.

Quando Jesus morreu, Ele quebra a lógica de vitimar. O Cristianismo (com e no) é o desaparecimento da religião. Esse é o grande fenômeno cristão por excelência!

Uma religião que exige sacrifício é diabólica

Entender a Graça é entender o verdadeiro Cristianismo. Uma religião que exige sacrifício é diabólica. Por isso muitos dos evangelicais precisam ler e estudar Girard. É uma leitura necessária. Uma igreja que vive da culpa e do medo, gera violência e nunca vai ser promotora da paz.

Veja o sermão do monte, e o significado da misericórdia, do pacificador, do amor, da compaixão, da solidariedade. Amar os amigos é fácil, ame os inimigos. Dê a outra face. Ande uma milha a mais, dê a capa e o sobretudo ...

Solidariedade não é para quem merece. É para quem precisa.

Há motivos que nos levam à angustia? Se não passarmos essa angustia por Deus, para Deus, seremos irresponsáveis. Vamos correr o risco de sermos violentos, motivados por raiva, por vingança. Deixamos a angustia dominar nosso coração.

A igreja verdadeira precisa mobilizar um exército de pacificadores e misericordiosos. Há angustia no nosso coração? Essa angustia é a semente de um sonho – é onde vem a esperança. A palavra pastoral: a oração vai regar essa semente. A gente leva para Deus a angustia, e Ele devolve esperança.

*(Anotações feitas e transcritas por Volney Faustini - sem revisão do preletor)

quinta-feira, março 23, 2006

ORA ET LABORA

I ENCONTRO DA IRMANDADE EMÁUS
(formação espiritual, cura, amizade e missão)
Vinhedo SP, de 20 a 23 de abril de 2006 –
Casa de Retiros Siloé – Mosteiro Beneditino

Tema: ORA ET LABORA
A oração como escuta e a missão como projeto de vida

Para quem?
Homens e mulheres comprometidos com o Evangelho de Cristo que desejam vivenciar mais da Espiritualidade Clássica e da Missão Integral.

Palestras:
- Aprendendo com os doutores da Igreja:
Bento de Núrcia, Agostinho de Hipona e Tereza d´Ávila.
- A espiritualidade do feminino

Exercícios espirituais, vivências e grupos:
Lectio Divina, Oração Centrante, experiência de Taizé
Vivências: Liturgica, Eucarística e do Filho Pródigo,
Grupos mentoriados.

Participação:
Enedina Redondo, Isabelle Ludovico da Silva, Gerson Borges, David Alencar, Waldney Carmignani, Ronaldo Perini, Sebastião Molina, Ivo Moreira, Luiz Santos e outros.

Direção Espiritual
Osmar Ludovico da Silva

Inscrições e mais informações escreva para: Ronaldo Perini - prperini@terra.com.br