sábado, outubro 28, 2006

Outra Igreja

“A Igreja é, ao mesmo tempo, organismo espiritual e instituição social. O grande
desafio é o constante arrancar das ervas daninhas da institucionalização de modo
que organismo espiritual encontre espaço para florescer, frutificar e se
alastrar.” (pg. 85)


Em Outra Espiritualidade – fé, graça e resistência (Editora Mundo Cristão), Ed René Kivitz promove o abandono “da espiritualidade do senso comum evangélico” – e propõe “um resgate dos aspectos essenciais à fé cristã conforme se estabeleceram nestes mais de dois mil anos de história”. Divide sua obra em: Outro cristianismo (parte 1), Outra igreja (parte 2), Outro céu (parte 3), Outra fé (parte 4), e Outras coisas (parte 5).

E pega pesado no “núcleo que resume como este segmento religioso da sociedade articula sua crença e seu modus vivendi”. Seu foco está em várias outras possibilidades – num sentido claro de construção de uma agenda positiva para o nosso atual momento. O nosso meio é um deserto em propostas contextualizadas e vivas. Há certamente algumas ilhas – porém em sua maioria carentes de equilíbrio. Há muita ortodoxia sem piedade e muita piedade sem ortodoxia. A própria blogosfera ‘cristã’ é sinal claro disso.

Kivitz enfatiza logo no início que o lado construtivo dessa “outra” é a busca da espiritualidade do senso comum da tradição cristã.

Os editores por sua vez, se sentiram no “dever de publicá-lo” pois diante de um quadro singular porque passa a Igreja brasileira, “Ed René Kivitz faz parte de um grupo que representa uma espécie de desobediência civil às tendências da maioria de seus contemporâneos”.

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Sou amigo do Ed há mais de 15 anos. Ele faz parte dessa nova geração que ‘nos’ sucedeu na década de 90. Acho que ele olhava para ‘nós’ pensando: ‘um dia vou fazer parte do núcleo’. Eu acho – nunca me certifiquei disso. À época, ele já começava a se destacar. Mas aqueles ‘nós’, eu incluiria o Caio Fabio, o Ariovaldo, o Osmar, o Robinson, o Bomilcar, o Guilherme, o Dieter, o Alex, e até o próprio Gondim ... entre vários outros. Eu – bem – eu ficava só nos bastidores.

Sómente nestes últimos dois anos é que nossa amizade, convivência e o relacionamento pastoral (hoje estou na IBAB) se intensificaram para valer. Realmente estamos mais próximos. E eu gosto do cara. É difícil não ser assim.

Um parêntesis aqui. O tempo dirá que estou certo nessa facilidade de gostar do cara. Mesmo os mais discordantes (e hiperbólicos defensores da fé), após um diálogo honesto com ele, certamente sairão com mais pontos conciliados e acordados (pelo e para o bem do Reino). É claro que incluo os verdadeiramente bem intencionados.

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No capítulo 17 do seu recém lançado Outra Espiritualidade, o autor lista alguns pontos que levam a igreja a um intensivo e maléfico caminho de institucionalização. Destaco alguns dos pontos elencados:

Liderança personalista. Perda da visão de I Coríntios 12 privilegiando ministros tidos como especiais.

Ministração quase exclusiva à massa sem rosto. Voltados para o crescimento numérico e valorização a ministração de massa.

Rede de relacionamentos funcionais. As relações deixaram de ser afetivas e se tornaram burocráticas.

Rotatividade de líderes chamados leigos. Muitos lideres se sentem usados, explorados, mal-amados, desconsiderados e negligenciados. Há um moer de corações pela máquina.

Falta de preocupação com o discipulado. A instituição está mais preocupada com uma agenda externa e visual (podemos incluir: concreta – quando da construção de sua sede), do que em transformar vidas de dentro para fora. Não há acompanhamento pastoral e discipulador.

Proclamação utilitarista. Quando os ministérios institucionalizados se alimentam de desespero e conveniência. A mensagem proclamada nada tem a ver com aquele bom e velho Evangelho!

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Os textos em si não são de todo novidade. É parte da sua ‘pregação escrita’ que manteve por anos na coluna Diálogo da revista Eclésia. Assim como seus pensamentos há tempo cristalizam que seu chamado é para ser um ‘virador de mesa’.

Quando do seu primeiro livro, ele já quebrava os paradigmas do culto, do clero e do templo. Ed não foi o primeiro a escrever e a pôr em prática esse jeitão revolucionário. Só que o homem não pára! E sempre aperta a seringa até o seu limite – não deixa sobrar nada.

Suas falas e seus escritos precisam ser mantidos em contexto. Muitos tentam fazer uma exegese teológica-doutrinária pinçando uma frase de um diálogo num contexto pastoral. Desprezar a sagacidade, a inteligência e o senso de oportunidade num momento em que (ungido pelo Espírito Santo) se ministra a corações despedaçados – é muito mais que injusto e irresponsável.

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Mais acerca do pensamento de Ed René Kivitz pode ser lido em seu recém inaugurado e já polêmico blog – aqui!

E para quem quer acompanhar as mensagens dominicais de sua pregação, a Eliene de Jesus Bizerra no seu blog Prosseguindo em Conhecer transcreve quase que de maneira católica. É um trabalho de fôlego, principalmente porque Ed tem pregado praticamente todos os domingos de manhã e à noite. Para quem tiver interesse vai encontrar preciosidades no blog da Li (que é duplamente de Jesus).

1 Comments:

Blogger Lou H. Mello said...

Tentei-o algumas vezes e ele não cedeu. Em outras, fez o maior esforço para ser um amigo verdadeiro. Foi há bom tempo atrás, mas, guardo a boa imagem e respeito até hoje. Por isso, me indignei quando faltaram com respeito a ele, outro dia.

sáb. out. 28, 02:27:00 PM  

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