terça-feira, janeiro 16, 2007

O que é o Nooma

Tive uma boa surpresa quando fui apresentado ao material do Nooma, quando me falaram deste, fui até o site e assisti ao Rain (cujo filme está disponível em versão integral) e aos clipes de todos os outros títulos disponíveis, já dava para sentir um pouco o espírito do trabalho, mas quando me emprestaram dois títulos da coleção, Rain e Sunday, fiquei realmente animado.
Cada Nooma traz um DVD que traz versões legendadas em diversas línguas, incluindo o português, mais um caderninho com grande qualidade gráfica e também de conteúdo, o caderninho é em inglês e traz algumas frases e perguntas para ajudar na reflexão e compartilhar da mensagem.
Meu entusiasmo veio de encontrar um material realmente ideal para aplicação em grupos pequenos e grupos pré-cristãos:
  • Os filmes são curtos, todos tem em média 10 minutos;

  • As mensagens são muito claras, a linguagem é bastante contemporânea e o contexto em que ele se colocam é bem comum

  • As reflexões são profundas, acho que um dos grandes méritos de Rob Bell no Nooma é fazer as perguntas certas, muitas delas ficam ecoando em nossa mente após o filme;

  • A direção dos filmes foi muito feliz, combina uma trilha sonora indie muito bonita e tocante, as locações muito bem escolhidas e uma conversa muito leve, longe daquele tom de pregação que a gente vê nos programas evangélicos

  • O filme e o caderno facilita muito a conversa e pode tornar o encontro do pequeno grupo realmente compensador.

  • Acho que o único porém são as legendas em português um pouco rápidas, mesmo para um pessoal que já está acostumado com TV a Cabo. Às vezes, o pessoal pede para que passe outra vez para rever o que perdeu e entender a lógica das propostas. Isto é, para um pessoal mais simples sem vivência com as legendas, o trabalho com os DVDs pode ser menos eficiente.
    Os títulos discutem a respeito de vários temas, alguns são excelentes, outros nem tanto e alguns tem aplicação bem específica:
    1.Rain – Fala a respeito das adversidades, dependendo como você estiver quando assistir é até difícil conter as lágrimas. Muitos consideram o melhor Nooma produzido.
    2.Flame – Fala a respeito dos níveis de profundidade do amor romântico até o sexo;
    3.Trees – Posicionamento bem interessante de nós como igreja na história, tenta nos fazer visualizar nossa missão;
    4.Sunday – Fala sobre igreja, é bem ousado em questionar o que fazemos e por que fazemos;
    5.Noise – O vídeo nos dá uma outra surpresa, fala sobre a importância do silêncio e como estamos preparados para desfrutar a presença de Deus;
    6.Kickball – Fala sobre a providência de Deus e respostas às nossas ansiedades;
    7.Luggage – Mensagem muito boa sobre perdão, no entanto, acho que esse é o filme com o roteiro mais polêmico de todos, pode não agradar;
    8.Dust – Aqui temos uma descrição fascinante sobre o que significa ser discípulo e temos uma conclusão surpreendente sobre a fé;
    9.Bullhorn – É uma crítica ao fundamentalismo evangélico em geral e seus pregadores de rua;
    10.Lump – Fala sobre o amor de Deus a despeito do nosso pecado;
    11.Rhythm – Fala sobre relacionamento com Deus e nos explica como todas as coisas se completam em Jesus Cristo, nos dá uma metáfora muito interessante sobre a presença e ação de Deus;
    12.Matthew – Fala sobre a perda de alguém querido;
    13.Rich – Fala sobre a responsabilidade daqueles que tem em ajudar os que não tem; creio que nós da classe média também nos inserimos no contexto que ele cita da América.
    Tem também o Breathe, que foi lançado recentemente, mas ainda não pude vê-lo. Nos Nooma’s Rain, Kickball e Lump, Rob Bell se aproveita de alguma experiência sua com seus filhos e nos permite entender melhor como Deus age como Pai. As idéias dos vídeos em geral são muito boas e às vezes surpreendentes, os desafios podem ser mais incômodos quanto mais conservadores forem os ouvintes.
    É só assistir o vídeo que as idéias fluem, tanto em como utilizá-lo na igreja, como em como criar outros novos materiais localmente, como também em como desenvolver sua própria fé que é bastante desafiada e desenvolvida à medida que você consegue aproveitar a mensagem.
    Rob Bell é pastor da Mars Hill Bible Church em Michigan, quando apresentam essa igreja, apresentam-na como a igreja que mais cresce nos Estados Unidos. Acho que a repercussão do Nooma junto com imagem que ele tem montado de um pastor cool, tem atraído várias críticas a ele. Pelo que vi, tem se destacado por ser um pastor que busca entender o background judeu dos ensinamentos de Jesus Cristo, você consegue notar o quanto ele recorre ao hebraico em vários de seus vídeos assim como à cultura hebraica. No site do Nooma ele mesmo recomenda uma lista de vários livros sobre Jesus Cristo e o Novo Testamento em um contexto judeu. Ele também escreveu o livro Velvet Elvis, onde você encontra uma boa base do que você assiste no Nooma e “Sex God” que está sendo lançado agora. Além disso, promoveu em 2006 um tour nos Estados Unidos chamado “Everything is Spiritual” com a renda alocada para a WaterAid que trabalha em encontrar água em cidades inóspitas.
    Se você for comprar, preste atenção nas taxas de frete que parecem ser as mesmas tanto para 1 como para os 14 DVDs: US$ 22.50. Lembre-se também do imposto de importação de 60% sobre o preço do DVD que você paga na retirada do produto aqui no Brasil.


    Contribuição de Luis Fernando Batista do Checklist Para Viver o Cristianismo

    sábado, outubro 28, 2006

    Outra Igreja

    “A Igreja é, ao mesmo tempo, organismo espiritual e instituição social. O grande
    desafio é o constante arrancar das ervas daninhas da institucionalização de modo
    que organismo espiritual encontre espaço para florescer, frutificar e se
    alastrar.” (pg. 85)


    Em Outra Espiritualidade – fé, graça e resistência (Editora Mundo Cristão), Ed René Kivitz promove o abandono “da espiritualidade do senso comum evangélico” – e propõe “um resgate dos aspectos essenciais à fé cristã conforme se estabeleceram nestes mais de dois mil anos de história”. Divide sua obra em: Outro cristianismo (parte 1), Outra igreja (parte 2), Outro céu (parte 3), Outra fé (parte 4), e Outras coisas (parte 5).

    E pega pesado no “núcleo que resume como este segmento religioso da sociedade articula sua crença e seu modus vivendi”. Seu foco está em várias outras possibilidades – num sentido claro de construção de uma agenda positiva para o nosso atual momento. O nosso meio é um deserto em propostas contextualizadas e vivas. Há certamente algumas ilhas – porém em sua maioria carentes de equilíbrio. Há muita ortodoxia sem piedade e muita piedade sem ortodoxia. A própria blogosfera ‘cristã’ é sinal claro disso.

    Kivitz enfatiza logo no início que o lado construtivo dessa “outra” é a busca da espiritualidade do senso comum da tradição cristã.

    Os editores por sua vez, se sentiram no “dever de publicá-lo” pois diante de um quadro singular porque passa a Igreja brasileira, “Ed René Kivitz faz parte de um grupo que representa uma espécie de desobediência civil às tendências da maioria de seus contemporâneos”.

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    Sou amigo do Ed há mais de 15 anos. Ele faz parte dessa nova geração que ‘nos’ sucedeu na década de 90. Acho que ele olhava para ‘nós’ pensando: ‘um dia vou fazer parte do núcleo’. Eu acho – nunca me certifiquei disso. À época, ele já começava a se destacar. Mas aqueles ‘nós’, eu incluiria o Caio Fabio, o Ariovaldo, o Osmar, o Robinson, o Bomilcar, o Guilherme, o Dieter, o Alex, e até o próprio Gondim ... entre vários outros. Eu – bem – eu ficava só nos bastidores.

    Sómente nestes últimos dois anos é que nossa amizade, convivência e o relacionamento pastoral (hoje estou na IBAB) se intensificaram para valer. Realmente estamos mais próximos. E eu gosto do cara. É difícil não ser assim.

    Um parêntesis aqui. O tempo dirá que estou certo nessa facilidade de gostar do cara. Mesmo os mais discordantes (e hiperbólicos defensores da fé), após um diálogo honesto com ele, certamente sairão com mais pontos conciliados e acordados (pelo e para o bem do Reino). É claro que incluo os verdadeiramente bem intencionados.

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    No capítulo 17 do seu recém lançado Outra Espiritualidade, o autor lista alguns pontos que levam a igreja a um intensivo e maléfico caminho de institucionalização. Destaco alguns dos pontos elencados:

    Liderança personalista. Perda da visão de I Coríntios 12 privilegiando ministros tidos como especiais.

    Ministração quase exclusiva à massa sem rosto. Voltados para o crescimento numérico e valorização a ministração de massa.

    Rede de relacionamentos funcionais. As relações deixaram de ser afetivas e se tornaram burocráticas.

    Rotatividade de líderes chamados leigos. Muitos lideres se sentem usados, explorados, mal-amados, desconsiderados e negligenciados. Há um moer de corações pela máquina.

    Falta de preocupação com o discipulado. A instituição está mais preocupada com uma agenda externa e visual (podemos incluir: concreta – quando da construção de sua sede), do que em transformar vidas de dentro para fora. Não há acompanhamento pastoral e discipulador.

    Proclamação utilitarista. Quando os ministérios institucionalizados se alimentam de desespero e conveniência. A mensagem proclamada nada tem a ver com aquele bom e velho Evangelho!

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    Os textos em si não são de todo novidade. É parte da sua ‘pregação escrita’ que manteve por anos na coluna Diálogo da revista Eclésia. Assim como seus pensamentos há tempo cristalizam que seu chamado é para ser um ‘virador de mesa’.

    Quando do seu primeiro livro, ele já quebrava os paradigmas do culto, do clero e do templo. Ed não foi o primeiro a escrever e a pôr em prática esse jeitão revolucionário. Só que o homem não pára! E sempre aperta a seringa até o seu limite – não deixa sobrar nada.

    Suas falas e seus escritos precisam ser mantidos em contexto. Muitos tentam fazer uma exegese teológica-doutrinária pinçando uma frase de um diálogo num contexto pastoral. Desprezar a sagacidade, a inteligência e o senso de oportunidade num momento em que (ungido pelo Espírito Santo) se ministra a corações despedaçados – é muito mais que injusto e irresponsável.

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    Mais acerca do pensamento de Ed René Kivitz pode ser lido em seu recém inaugurado e já polêmico blog – aqui!

    E para quem quer acompanhar as mensagens dominicais de sua pregação, a Eliene de Jesus Bizerra no seu blog Prosseguindo em Conhecer transcreve quase que de maneira católica. É um trabalho de fôlego, principalmente porque Ed tem pregado praticamente todos os domingos de manhã e à noite. Para quem tiver interesse vai encontrar preciosidades no blog da Li (que é duplamente de Jesus).

    sexta-feira, abril 28, 2006

    O que 147 alces me ensinaram sobre a oração



    Por Philip Yancey

    O autor Brennan Manning, que dirige retiros espirituais várias vezes por ano, certa vez me falou que não há uma pessoa que tenha seguido suas instruções para um retiro de silêncio que não tenha conseguido ouvir a Deus. Intrigado e um pouco cético, eu me inscrevi para um de seus retiros, este com a duração de 5 dias.

    Todos os participantes se encontravam com Brennan por uma hora, diariamente, tempo em que ele nos daria algumas tarefas em meditação e trabalho espiritual. Também nos encontrávamos para o culto diário, durante o qual só Brennan falava. Fora disso, nós éramos livres para gastar nosso tempo como quiséssemos, com apenas uma exigência: duas horas de oração por dia.

    Eu duvido que eu já tivesse dedicado mais de 30 minutos à oração em alguma outra ocasião, na minha vida. No primeiro dia eu perambulei por uma campina até seu limite, e me sentei no chão, com as costas apoiadas no tronco de uma árvore. Eu tinha trazido comigo a tarefa de Brennan para o dia e um notebook para poder registrar meus pensamentos. Por quanto tempo vou me manter acordado? – eu me perguntava.

    Para minha grande sorte, uma manada de 147 alces (eu tive tempo suficiente para contá-los) passeava exatamente no campo em que eu estava sentado. Ver um alce já é excitante; ver 147 alces no seu habitat simplesmente nos faz cativos. Mas logo eu aprendi que observar 147 alces por duas horas é, no mínimo, entediante. Eles abaixavam as cabeças e mastigavam grama. Levantavam as cabeças simultaneamente e olhavam para uma gralha estridente. Abaixavam as cabeças novamente e mastigavam grama. Por duas horas, nada além disso aconteceu. Não houve ataque de leões da montanha; não houve confronto entre búfalos. Todos os alces se inclinavam e mastigavam grama.

    Depois de um tempo, a total placidez da cena começou a me afetar. Os alces não tinham se dado conta da minha presença, e eu simplesmente me introduzi no seu ambiente, assimilando o seu ritmo. Já não pensava mais no trabalho que havia deixado em casa, nos prazos de entrega me encarando, na leitura que Brennam havia me indicado. Meu corpo relaxou. No silêncio dominante, minha mente se aquietou.

    “Quanto mais aquietada estiver a mente”, escreveu Meister Eckhart, “mais poderosa, de mais valor, mais profunda e mais perfeita será a oração.” Um alce não tem que se trabalhar para ter uma mente aquietada; ele se satisfaz em permanecer num campo o dia inteiro com seus companheiros alces, mastigando grama. Um apaixonado não tem que se esforçar para dispensar atenção à sua amada.

    Eu orei pedindo, e num momento fugaz recebi – esse tipo de devoção a Deus que arrebata.

    Em nenhuma outra ocasião tornei a ver os alces, embora toda tarde eu procurasse por eles nos campos e floresta. Durante os dias seguintes eu disse muitas palavras a Deus e também me sentei em silêncio na sua presença. Fiz listas e muitas coisas me vieram à mente, mas não teriam vindo se, uma vez, eu não tivesse me sentado no campo por horas. A semana se tornou uma espécie de check-up espiritual que apontou caminhos para um futuro crescimento. Não houve uma voz audível. No entanto, ao final da semana eu tive que concordar com Brennan: eu ouvi Deus.

    Eu me tornei mais convencido que nunca que Deus encontra maneiras de se comunicar com aqueles que verdadeiramente o buscam, especialmente quando diminuímos o volume dos ruídos à nossa volta. Eu me lembro de ler o depoimento de uma pessoa que, em sua busca espiritual, interrompeu uma vida atribulada para passar alguns dias num mosteiro. “Eu espero que você tenha uma estadia abençoada”, disse o monge que mostrou ao visitante sua cela. “Se você precisar de alguma coisa, fale conosco, e nós o ensinaremos a viver sem ela.”

    Nós aprendemos a orar fazendo orações, e duas horas concentradas por dia me ensinaram muito. Para começar, eu preciso pensar mais em Deus do que em mim, enquanto estou orando. A própria Oração do Senhor foca primeiro naquilo que Deus quer de nós. “Santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade” – Deus quer que desejemos essas coisas, que orientemos nossas vidas nelas.
    Com que freqüência eu me chego a Deus não com pedidos de um consumidor, mas simplesmente com o desejo de passar um tempo com Ele, de discernir o quê Ele quer de mim, e não vice versa? Quando eu fiz isso no campo de alces, misteriosamente descobri que a resposta às minhas orações por uma orientação girava em torno da minha pessoa, o tempo todo. Nada mudou, a não ser os meus receptores; através da oração eu os abri para Deus.

    Algumas pessoas chamaram a oração meditativa de um ato sem proveito, porque nós a fazemos não com o intuito de conseguir algo, mas espontaneamente, tão inútil quanto uma criança brincando. Depois de um tempo maior com Deus, minhas demandas urgentes, que pareciam tão importantes, passaram a ter um novo enfoque. Eu comecei a pedir por elas para o bem de Deus, não para o meu próprio. Embora minhas necessidades possam me levar a orar, é lá que eu chego face-a-face com minha maior necessidade: um encontro com o próprio Deus.

    Traduzido por Talita A. M. Ribeiro - Christianity Today

    sábado, março 25, 2006

    Ed René Kivitz -


    Está no meu colo já há uns bons dias essas anotações da fala do Ed René Kivitz no evento do Vida Acadêmica , realizado na Bienal do Livro.

    Antes de mais nada, quero fazer um disclosure: o cara é muito amigo. Tanto é que a minha primeira escolha, ano passado na mudança para Sampa foi ir pra a IBAB (e de brinde ganhei o Arizão – outro precioso irmão e amigo).

    Preciso dizer dessa minha consideração pelo Ed, pois é uma amizade construída no tempo. Uns 15 anos pra mais. Ele vinha à redação de Kerigma para compartilhar seus sonhos e projetos, e eu ficava ouvindo e vez ou outra dava uns pitacos. É impressionante como Deus fervilha sonhos em seu coração, e no ponto de ebulição, deixa subir à cabeça. E daí pra realização é dois palitos. Isso foi no começo dos anos 90. E como amizade é igual a jardim, cultivei desde então.

    O outro lado da verdade nessa amizade, é que admirar um cara inteligente, empreendedor e corajoso é fácil. Um cara porém, que une essas qualidades e, talvez por isso mesmo, atue com muito desprendimento no meio evangelical - você admira ainda mais.

    Como isso é apenas uma introdução ao post de sua palestra, em outra oportunidade resumiremos seus dados biográficos.

    Além da Religião


    Palestra realizada no evento VIDA ACADÊMICA - Bienal (14/03/2006)

    Notas da apresentação de Ed René Kivitz (em formato livre)*


    René Girad é um antropólogo cristão (católico) que através de seus livros nos ajuda a entender aspectos do Cristianismo que vão além da religião. Seus livros – para citar alguns são: Violência e o Sagrado, O Bode Expiatório, Longo Argumento do Principio ao Fim, Eu Via Santanás Cair do Céu como um Raio (Edição Portuguesa).

    A maneira como Girard desenvolve sua análise, principia com o 10º mandamento ... “Não cobiçarás ...”. A construção é feita em cima da dominação mimética do ser humano de querer imitar seu próximo, ser igual a ele. É na quebra deste mandamento que geramos tensão e violência. E como o povo peca em conjunto, a violência é coletiva. Somos seres desejantes – sem saber por que, queremos, desejamos, ansiamos, cobiçamos ... Diferente de apetite que é um atributo natural e físico, o desejo vai além. Como um símbolo a ser alcançado, quero imitar o outro. SE eu admiro alguém, vou aspirar ser igual a ele.

    A sociedade de consumo sabe trabalhar bem essa mecânica. As propagandas usam o ‘meu ídolo’ que possui, que veste, que tem algo – e esse algo eu vou desejar também. Eu quero igualmente usar, vestir, ter. Apesar de iguais – humanamente falando, nos tornamos rivais pois os objetos de desejo são escassos. A violência coletiva é gerada a partir daí. Por isso de: todos contra todos!

    Deixamos de lado nosso objeto de desejo, para dar seqüência à violência. A própria violência é mimética. Não podemos nos satisfazer, então temos que partir para a violência, gerada que foi pelo ponto de tensão.

    O senso de sobrevivência propôs um ponto de fuga. Ao invés de todos contra todos, escolhamos um bode expiatório. Sabemos que o problema está na sociedade, mas a forma de resolvermos essa tensão é através do sacrifício de um.

    ".. e que não pereça toda a nação."

    No evangelho vemos em João 11:50 as palavras de Caifás (propondo a solução dentro desse arquétipo) “É melhor que um só morra, para preservarmos a nação” Poderia ser algo assim: “Vocês Os Romanos vão perder a paciência conosco e vão nos aniquilar como nação – é melhor a gente entregar esse homem, e que ele sirva de bode expiatório”.

    Há um paralelo aqui com o Édipo que foi castigado e expulso. Um sacrifício para apaziguar os deuses. A paz voltou após isso.

    A religião portanto constrói o altar para o bode, e toma o bode para justiça – realizando o sacrifício. O bode é assim divinizado. A sociedade estabelece o rito – o que não é a missa a não ser a repetição do sacrifício de Cristo? O rito é a substituição do fato a ser repetido.

    Há nos evangelhos mitos idênticos, com uma diferença substancial – daí que faz do Cristianismo (o verdadeiro) não uma religião. E daí que o outro cristianismo (o não verdadeiro) é uma imitação de atos religiosos.

    Nos outros mitos, o bode é culpado, logo sua morte é justificada e bem vinda. Esse bode participou dos problemas, dos erros e das culpas, junto com todo o povo. Então se usarmos o bode – que é igualmente culpado, não estaremos errando de todo, e ainda por cima vamos nos livrar da culpa.

    Jesus é o Cordeiro

    É exatamente aqui que não podemos nos perder! Por que Jesus não é bode – é Cordeiro! Ele não tem culpa! Diferente do bode ele é inocente! E se o bode fazia parte do povo culpado, já não podemos usar a figura com Jesus, pois ele é inocente como um Cordeiro.

    O salmista interpreta e antecipa esse sentimento de Cristo à beira da morte: “Fiz coisas boas, sinais vários. Por que o povo me odeia?”

    Em nenhum momento Jesus vem como bode, mas sim como Cordeiro, por ser sinônimo de limpeza, de pureza. E assim se repete ao longo do livro de Atos: “Vocês mataram um inocente” era a pregação recorrente. E mais (no evangelho completo) Deus ressuscita o inocente!

    A morte, a última das desgraças, estava associada ao destino imposto pelos deuses. Morrer significava perdedor. Perdedor era o errado, o culpado. Veja o exemplo dos duelos medievais e até alguns séculos atrás: não era para ver quem era melhor (com a espada, como tiro), era para literalmente deixar nas mãos de Deus que a justiça seria feita à maneira dEle!! Deus não ficaria neutro, penderia para algum dos lados, e com certeza para o lado certo!

    Davi e Golias foi um duelo. Como Davi poderia perder? O imperador romano já vaticinava: “Quem vai se levantar contra Roma? Os deuses estão do nosso lado!”

    Vemos que com Cristo, as coisas mudam. Primeiro por Ele ser inocente. Depois por Deus te-Lo ressuscitado, e em terceiro lugar, porque Deus não estava do lado do algoz. Diferentemente do principio do bode expiatório, Deus se solidariza com a Vida.

    Todo sacrifício em nome de Deus é errado

    Girard cita I Coríntios 15 como um argumento de que Satanás não tinha idéia do que significava a morte de Cristo, nem da sua ressurreição. Ele foi pego de surpresa. Satanás não participaria do processo do bode expiatório se ele entendesse que não era um bode expiatório – e sim a morte e a ressurreição do Cordeiro inaugurando um novo tempo. Não vai ter mais sangue. A partir de agora Deus vai ficar do lado da vítima. Quem mata, mata Deus. Todo sacrifício em nome de Deus é errado! Porque o sacrifício vitima alguém, e Deus não está mais do lado do sacrifício porque essa era cessou – acabou!

    Não dá para sustentar um processo de vitima e de sangue (sacrifício) em nome de Deus ou da religião, pois Deus não quer mais sangue. E Ele vai sempre ficar do lado da vítima.

    Quando Jesus morreu, Ele quebra a lógica de vitimar. O Cristianismo (com e no) é o desaparecimento da religião. Esse é o grande fenômeno cristão por excelência!

    Uma religião que exige sacrifício é diabólica

    Entender a Graça é entender o verdadeiro Cristianismo. Uma religião que exige sacrifício é diabólica. Por isso muitos dos evangelicais precisam ler e estudar Girard. É uma leitura necessária. Uma igreja que vive da culpa e do medo, gera violência e nunca vai ser promotora da paz.

    Veja o sermão do monte, e o significado da misericórdia, do pacificador, do amor, da compaixão, da solidariedade. Amar os amigos é fácil, ame os inimigos. Dê a outra face. Ande uma milha a mais, dê a capa e o sobretudo ...

    Solidariedade não é para quem merece. É para quem precisa.

    Há motivos que nos levam à angustia? Se não passarmos essa angustia por Deus, para Deus, seremos irresponsáveis. Vamos correr o risco de sermos violentos, motivados por raiva, por vingança. Deixamos a angustia dominar nosso coração.

    A igreja verdadeira precisa mobilizar um exército de pacificadores e misericordiosos. Há angustia no nosso coração? Essa angustia é a semente de um sonho – é onde vem a esperança. A palavra pastoral: a oração vai regar essa semente. A gente leva para Deus a angustia, e Ele devolve esperança.

    *(Anotações feitas e transcritas por Volney Faustini - sem revisão do preletor)

    quinta-feira, março 23, 2006

    ORA ET LABORA

    I ENCONTRO DA IRMANDADE EMÁUS
    (formação espiritual, cura, amizade e missão)
    Vinhedo SP, de 20 a 23 de abril de 2006 –
    Casa de Retiros Siloé – Mosteiro Beneditino

    Tema: ORA ET LABORA
    A oração como escuta e a missão como projeto de vida

    Para quem?
    Homens e mulheres comprometidos com o Evangelho de Cristo que desejam vivenciar mais da Espiritualidade Clássica e da Missão Integral.

    Palestras:
    - Aprendendo com os doutores da Igreja:
    Bento de Núrcia, Agostinho de Hipona e Tereza d´Ávila.
    - A espiritualidade do feminino

    Exercícios espirituais, vivências e grupos:
    Lectio Divina, Oração Centrante, experiência de Taizé
    Vivências: Liturgica, Eucarística e do Filho Pródigo,
    Grupos mentoriados.

    Participação:
    Enedina Redondo, Isabelle Ludovico da Silva, Gerson Borges, David Alencar, Waldney Carmignani, Ronaldo Perini, Sebastião Molina, Ivo Moreira, Luiz Santos e outros.

    Direção Espiritual
    Osmar Ludovico da Silva

    Inscrições e mais informações escreva para: Ronaldo Perini - prperini@terra.com.br

    quinta-feira, fevereiro 16, 2006

    Viva Rio no CMI

    Viva Rio participa do evento apresentando boas práticas sobre cultura de paz e projetos com a juventude

    A 9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) acontecerá em Porto Alegre, RS, Brasil, de 14 a 23 de fevereiro de 2006, sob o tema "Deus, em tua graça, transforma o mundo". A Assembléia será um tempo de encontro, oração, celebração e deliberação para milhares de cristãos – mulheres e homens – de todo o mundo. O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunhão de mais de 340 Igrejas, Protestantes, Anglicanas, Ortodoxas, unidas e outras igrejas, em mais de 100 países, representando mais de 550 milhões de cristãos e hoje tem como secretário-geral, Konrad Raiser, da Igreja Evangélica da Alemanha. A Igreja Católica não faz parte do CMI, mas mantém um grupo de trabalho com o mesmo, enviando uma representação a estas assembleias gerais.

    O Rubem César Fernandes, diretor-executivo do Viva Rio, e o Viva Rio pertencem ao Conselho Internacional de Religião. A antiga parceria começou com o programa “Paz para cidade” que promoveu o intercâmbio entre grupos que desenvolviam a cultura de paz. Em continuidade a esta parceira, a ONG participa da Assembléia em diversas atividades. O Viva Rio levará para o Mutirão (veja descrição abaixo) a experiência adquirida na época da Campanha do Desarmamento em que contou com o importante e essencial apoio das igrejas. Representantes do Viva Rio também participam do painel sobre os jovens, apresentando as boas práticas desenvolvidas pela organização para este público.

    A Assembléia é o "mais alto órgão legislativo" do CMI, e acontece a cada sete anos. A última assembleia foi no ano de 1998, em Harare, Zimbabue, por ocasião dos 50 anos de fundação do Conselho. O objetivo formal é revisar programas e determinar as políticas gerais do CMI, bem como eleger os presidentes e nomear um Comitê Central que atua como principal órgão governamental até a assembléia seguinte. Mais de 700 delegados e seus consultores, representando mais de 340 igrejas-membro, vão desempenhar seu trabalho num programa que incluirá oração, estudo bíblico, plenárias temáticas, palestras e trabalho de comitês.

    Essa é a primeira vez que a Assembléia acontece na América Latina. O convite para a realização da Assembléia no Brasil partiu das igrejas brasileiras membros do CMI e do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). O local do evento será o CEPUC (Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

    Juntamente com o trabalho dos comitês e das sessões administrativas para os delegados, a Assembléia também é uma oportunidade de celebrar e compartilhar com os milhares de visitantes esperados para o evento. Um dos pontos altos da Assembléia será o programa ecumênico de parcerias ou Mutirão – palavra que pode ser entendida como reunir-se, celebrar e refletir juntos. Esta é exatamente a intenção deste espaço que estará aberto para uma ampla gama de igrejas, organizações ecumênicas e grupos de todas as partes do mundo. A programação diária do Mutirão irá incluir apresentações, exposições e discussões abertas a todos os participantes da Assembléia.

    O evento reunirá em Porto Alegre mais de 3.000 representantes de diversas Igrejas.Além dos assuntos ligados diretamente a questões de fé, como celebrações, orações diárias, estudos bíblicos e diálogos ecumênicos, esta assembléia está adquirindo o caráter de Fórum Social Mundial Ecumênico, com mais de 220 seminários e 150 exposições sobre temas e iniciativas de ações humanitárias promovidas pelas Igrejas ou entidades a elas ligadas.
    Ativistas de Direitos Humanos e ganhadores do Prêmio Nobel da Paz como o escritor Adolfo Perez Esquivel, o arcebispo africano Desmond Tutu e a defensora das causas indígenas na Guatemala, Rigoberta Menchú, são convidados ilustres do evento. A programação também contempla um mosaico cultural montado por meio de shows artísticos internacionais, com ênfase para a mostra de manifestações artísticas latino-americanas.
    Embora a assembléia seja dirigida aos representantes das 347 Igrejas filiadas ao CMI, a programação deste ano, segundo os organizadores, é aberta "aos interessados no diálogo ecumênico e na concretização da justiça, paz e integridade da criação".
    Programação

    O programa da 9ª Assembléia será rico e diversificado, contendo vários elementos inter-relacionados, envolvendo comunhão, celebração, discussão e oração. A liderança do CMI espera que esta assembléia venha marcar uma nova fase que inspire e energize o CMI e o movimento ecumênico.

    Para os delegados oficiais, as sessões de assuntos administrativos vão enfocar a organização e os programas do CMI, além de tomar decisões sobre prioridades futuras. As sessões temáticas ou deliberativas abrirão espaço para a discussão tomada de decisões a respeito de questões com as quais se defronta o movimento ecumênico. Um programa aberto de parceria chamado "Mutirão" permitirá que as igrejas e outros participantes compartilhem experiências e proponham exposições e apresentações.

    Serviço:
    9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igreja
    Datas: de 14 a 23 de fevereiro
    Local: CEPUC (Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

    Mais informações:
    Clemir Fernandes, Religião e Paz, Viva Rio, tel: (21) 2254 3336

    Missões

    POST MISSIONÁRIO DE ZIG

    "...a ponto de se admirarem todos e darem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim!"Mc.2;12

    Recebi de nosso missionário Jorge Feistler esta carta, que repasso na integra, pois é uma preciosidade.O filme Jesus dublado para os idiomas locais, impactou o povo. Tivemos reuniões com 50, 100. 500, 700 e até 1000 pessoas, admiradas em ouvir Jesus declarar em sua própria língua:"EU SOU O CAMINHO..."

    O novo templo para 250 pessoas, parece que será pequeno, para a grande colheita que está madura diante de nossos olhos.

    Obrigado por sua ajuda.

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    Amado irmão, paz seja em seu lar.

    Desejamos que seu novo ano seja tão repleto de bênçãos quanto o nosso. Embora a nostálgica saudade pairasse no ar , nossos primeiros momentos de 2006 foram de alegria junto aos discípulos, quando, à meia-noite, celebramos a Santa Ceia e ouvimos testemunhos emocionantes como o de Úmaro:

    ”Foi o melhor ano de minha vida porque encontrei JESUS;antes, minha vida era vazia..EU ERA SIMPLESMENTE NADA!”

    Retrospectivas e alvos daqueles que o Pai nos deu são como um refrigério para nós, e nos animam a lutar com ainda mais coragem nesse ano. Por eles e pelos que ainda verão a Luz em 2006, vale a pena prosseguir... OBRIGADO, amado irmão, por seguir conosco!

    Outra grande bênção foi a vinda de Douglas Amaral, sua família e Wagner e Cléia, de Curitiba, que estiveram fazendo a projeção do filme JESUS (em crioulo e fula) em vários vilarejos. Era emocionante ver o interesse e atenção da platéia, sendo a maior parte muçulmanos, inclusive autoridades. Entre as muitas pessoas que aceitaram JESUS, alguns andaram 28 km para conhecê-Lo melhor(no culto de domingo). Oremos para que “pedras e espinhos” não venham sufocar a preciosa “semente”.

    Louvamos a DEUS de maneira especial pelas pessoas que têm mostrado fome e sede espiritual, e têm provado, com suas vidas, um amor sincero pelo SENHOR. Nós convivemos com eles, e sabemos quão caro lhes custa seguir pelo caminho da cruz; é muita renúncia, temores, ameaças, enfim, impossível explicar...mas, eles têm sido fiéis. Por favor, ore conosco por eles, entre os quais um grupo se prepara para o batismo, desafio maior. Como um grupo (média de 30) mora há 14 km daqui, já iniciamos o alicerce do templo de Kadik Iala, estando os próprios membros fazendo os blocos de barro. Simultaneamente, outro grupo de discípulos e eu temos trabalhado no preparo do terreno para a construção do templo em Iemberém. A pressa se deve a dois motivos: a sala que alugamos quase não pode abrigar todos e é quase impossível construir no tempo de chuvas (início de junho).

    Então, amado irmão, temos muito trabalho, manual e espiritual, e continuamos dependendo da capacitação do SENHOR, sem a qual nada podemos.

    Querido irmão, sem palavras para expressar nossa gratidão a você,
    Jorge, Vera, Tiago, Sara e Joshua.

    Quer ajudar? Entre em contato conosco: afimdeproclamar@gmail.com

    terça-feira, fevereiro 07, 2006

    Quem é Robson Ramos


    Kerigma Proclamação recebe uma importante contribuição para o tema da pós-modernidade. Formando a base de uma agenda positiva e construtiva que a Igreja brasileira deve se debruçar e refletir, somos brindados com a participação de um dos nossos colaboradores - integrante da equipe Kerigma.

    Robson Ramos foi igualmente colaborador da Revista Kerigma no início da década de 90 - em matéria de capa sob o título A NOVA ERA.

    Bacharel em Teologia e Mestre em Estudos do Novo Testamento pelo Pittsburgh Theological Seminary, Robson foi o Diretor Executivo da SBI - Sociedade Bíblica Internacional. de 1996 a 2003, período em que a tradução Bíblia NVI foi concluída e publicada. Ele também dirigiu a ABU - Aliança Bíblica Universitária no Brasil durante 11 anos.

    Sentimo-nos honrados com sua renovada e bem pertinente participação. Mais detalhes sobre Robson, bem como do livro que se baseia o artigo a seguir, você pode saber aqui.

    sexta-feira, janeiro 27, 2006

    Entrevista com David F. Wells


    Inauguramos Kerigma on line (o blog) com a tradução da entrevista de David F. Wells publicada no site da própria editora (Errdmans). A dica veio pelas mãos de Isaías Lobão Jr., de Brasília. Agradecemos a gentil revisão de Donald Price (EVN).

    ENTREVISTA COM DAVID F. WELLS – autor de Above All Earthly Powers

    P – O sr. inicia seu livro com a descrição dos eventos trágicos de 11 de setembro. Como o sr. analisa os ataques terroristas afetando a igreja num mundo pós-moderno?

    DW = Por alguns breves momentos, nós na Igreja fomos violentamente acordados [pelo evento], o que nos fez afastarmos de nossas preocupações egoístas, da coisa privada, das nossas necessidades terapêuticas, e sermos confrontados por um ato do mal ‘direto na nossa fuça’. De fato voltamos à escola pela realidade. Foi um choque afiado e doloroso, como que descobrir, tarde demais, que se está andando descalço em cima de vidro quebrado.

    Você tem que entender que a vida na Igreja é muito mais sobre mim, sobre o que considero agradável, e as minhas necessidades. A vida no mundo é muito mais sobre o que está miseravelmente errado, e às vezes tenebroso, como em 11 de setembro.

    É difícil de se saber se a fé evangélica mudou de forma permanente após esse choque. Eu penso que na verdade foi um momento de revelação constrangedora. Com certeza os evangélicos, o povo da Cruz, seriam aqueles que deveriam conhecer algo sobre o Mal e a forma como Deus nos conquista através da reconciliação em Cristo. Certamente, eles deveriam ter saído à frente, para tentar explicar esse evento para uma nação confusa e desesperada.

    Eu gostaria de poder afirmar que, logo após o evento, os sermões jogaram luz sobre a tragédia. Mas devo admitir que pelo que li, na maioria, não. Com raras exceções, os evangélicos em geral, como todo mundo, ficaram mudos e sem ação. Hoje nossa fé é forte no particular, mas irrelevante no público, para citar Os Guiness. E creio que foi isso que aprendemos de 11 de setembro.

    P – Uma das coisas que faz da sua pesquisa sobre o crescimento do pós-modernismo como algo singular, é o seu argumento de como a imigração tem contribuído para o aumento do pós-modernismo nos Estados Unidos da América. Como o sr. vê isso acontecendo?

    DW = O que eu já disse é que a imigração e o ethos da pós-modernidade do nosso tempo são duas características definidoras deste momento. No entanto a relação entre elas tem vários lados e as vezes é antagônica.

    Não há duvida que a combinação da imigração e nossa mídia tornaram as tradições religiosas - que no passado eram distantes, remotas, e até mesmo exóticas, parecerem no presente mais comuns e certamente mais acessíveis. Para ilustrar com o Hinduismo, não precisamos viajar para a Índia como muitos fizeram na década de 60, a exemplo dos próprios Beatles. O que é necessário fazer, é descer a rua e encontramos hindus praticando sua religião. Tem muita gente na América que como resultado disso, está indo atrás dessas religiões e de práticas espirituais com o objetivo de aumentar suas espiritualidades pessoais. Uma das palavras ‘quentes’ do momento é, por exemplo: metroespiritualidade. É um movimento Yuppie que combina o misticismo do Oriente com fontes do Budismo e do Hinduismo, com o consumerismo do Ocidente. Respeitar o meio ambiente é comprar um carro híbrido (elétrico e a gasolina). Respeitar a si mesmo é conectar-se com sua força interior e colocar isso tudo num pacote espiritual: Açaí, meditação, bondade, e aromaterapia – tudo servido numa mesma tigela!

    Esse tipo de coisa não parece mais estranha para nós, porque nos tornamos a nação religiosamente mais diversificada do mundo, com o Ocidente encontrando o Oriente no supermercado, no posto de gasolina, e todos os dias na televisão.

    Ao mesmo tempo, muitos dos imigrantes que vem para América, estão trazendo com eles as suas crenças morais tradicionais e idéias acerca da família, crenças que são derivadas tanto do Protestantismo como do Catolicismo. Essas crenças estão continuamente em conflito com a maneira pós-moderna que a América pensa a respeito da família e da moralidade. Será que esses novos entrantes [na cultura] conseguirão preservar suas crenças? Ou será que se perderão num grande caldeirão pós-moderno, que ameaça derreter suas crenças?

    P – Qual a diferença entre a pós-modernidade popular e a acadêmica ou intelectual?

    DW = A diferença é menos no campo das idéias do que no grau de autoconsciência, e mais sobre a clareza com que são expressas.

    No entanto, há um mito que precisamos enfatizar aqui. Intelectuais, gostam de pensar de si mesmos como aqueles que estabelecem as tendências na sociedade, que o que eles estão pensando é o ponto alto da realidade. O resultado é que quando os intelectuais escrevem sobre cultura – e quem mais escreve? – eles ficam inclinados a ver suas idéias e de suas próprias culturas, como sendo uma relação de causa e efeito. Eles são a causa do que é o efeito.

    No período moderno, no entanto, isso raramente acontece. É a cultura, muito mais freqüente, que permite às idéias serem plausíveis, e que tornam os fatos inevitáveis. E é da cultura que as idéias ganham a fricção. E é quase sempre por causa da cultura, quando ela muda, que se perde a sua fricção. É por isso que eu creio, a ideologia do Iluminismo perdurou tanto tempo no Ocidente, e se tornou tão encarnada na cultura das elites, dos críticos de plantão, da academia, de Hollywood, e de muitos de nossos jornais. A modernização de nossa sociedade fez as idéias do Iluminismo (como o humanismo secular) se tornarem inevitáveis, verdadeiras e inquestionáveis. Quando esse tipo de andaime público e cultural começou a balançar nos anos 60, as idéias também começaram a despencar deixando um vazio nas crenças que o Iluminismo costumava preencher no nosso pensamento. Então nos tornamos pós-modernos. Para alguns, no topo da escala da intelectualidade, isso acontece de maneira convincente e racional. E para os outros na outra extremidade, acontece de maneira não tão pensada, mas mesmo assim não menos real.

    P – Sua forte crítica ao estilo contemporâneo de adoração dos ‘buscadores de sensações’ [igrejas do tipo orientadas ao consumidor – ou ‘caçadores de emoções’] chega como uma surpresa para os evangélicos, que vêem essa adoração como algo necessário para se trazer as pessoas para a igreja. Quais são os maiores perigos de se aceitar acriticamente esse tipo de adoração?

    DW = Você tem toda a razão de dizer que a minha crítica vai surpreender muitos evangélicos, porque eles acham que a abordagem de adoração dos ‘buscadores de sensações’ é o único jogo na praça. E é também a única coisa que eles sabem fazer. E certamente é a razão de tantas igrejas terem ficado grandes e importantes. Esses evangélicos também rejeitam a alternativa que, aos seus olhos, pareça retrocesso, obsoleta, tradicional, velha, ‘por fora’ e que fracasse em alcançar a nova geração, ficando condenada portanto ao inevitável declínio e irrelevância. Eu penso que são alternativas falsas.

    Eu não dou folga para as igrejas tradicionais que mereçam fracassar, mas não tenho nenhuma esperança para esses criadores de moda da igreja – pois vão terminar de mãos vazias. O fato inevitável é que a cultura está oferecendo quase tudo que se pode encontrar nessas igrejas, só que sem toda aquelas inconveniências de se ter que ser religioso. Esse experimento em se bancar igreja, é um fracasso demonstrável. Barna – que é tanto seu arquiteto como seu historiador, tem demonstrado esse fracasso.
    Semana após semana, suas pesquisas mostram que os nascidos de novos, muitos dos quais inundam as igrejas que são do tipo ‘das sensações’, são analfabetos bíblicos, vivem não diferente dos do mundo e de fato somente 9 % tem algo como uma cosmovisão (nisso ele quer dizer que tem um conjunto mínimo de crenças cristãs, que define a maneira como eles vêem a vida). Ele prediz que em cinco anos o movimento evangélico desaparecerá. Nem mesmo eu tenho ido tão longe nesse tipo de projeção! Ele também prediz que dentro de alguns anos, 50% das igrejas definharão. E as pessoas – Barna acha que isso é realmente muito bom! – seguirão a corrente cultural de ser espiritual sem ser religioso, o que quer dizer que elas vão se despir ainda mais de suas crenças de doutrina e de envolvimento no corpo da igreja local. É como escrever uma receita para suicídio!

    Aqui jaz o túmulo da fé evangélica e estamos sendo levados, passo a passo, pelos pastores do tipo ‘que legal’ “das sensações’, ‘bem na moda’. Ao nos levar para lá, eles ficaram famosos, e se tornaram CEO [presidentes] de grandes empreendimentos eclesiásticos, porém o preço de sua fama e de sua fortuna é a falência da fé, não pela sua heterodoxia explícita mas pela sua prática.

    O fato é que Cristo não está à venda. Sua mensagem não está aí no mercado implorando para ser consumida. E esses pastores que tanto se prostituíram vão descobrir que a fé (esta que sem dúvida eles a mantém tão querida), se perdeu por entre seus dedos. Aqui está o paradoxo que nem os primeiros liberais protestantes, nem muito dos nossos pastores evangélicos ‘das sensações’ [das igrejas orientadas ao consumidor] parecem ter entendido: O tipo de fé cristã que reconhece a verdade absoluta, clama e demanda um comprometimento que case com sua forma absoluta, indo contra todas as culturas manifestas – prospera. O tipo de fé cristã que emudece nas suas afirmações verdadeiras (só para se encaixar), e se dilui no compromisso exigido (só para ser mais bem aceita) – é desastre total.

    A questão aqui não é tradicional versus contemporâneo. A questão é autêntico versus não-autêntico. É o Cristianismo histórico crente versus o remanescente com suas imitações pálidas, nas mãos desses pragmáticos.

    P – Quais os lados positivos disso?

    DW = Não muitos que eu possa pensar.

    P – Como o sr. visualiza a igreja que está sendo fiel ao evangelho vir a ser nesse século 21?

    DW = Nós cometemos um grande erro ao pensar que a única coisa que vale na vida da igreja local é a sua forma. Isto é, como ela aparenta e como ela se expressa. Será que nós temos a última tecnologia? O nosso telão está no tamanho adequado? Temos um bom refeitório? Será que temos os horários adequados para não atrapalhar o fim de semana das pessoas? Temos eliminados todas aquelas coisas que os ofende como púlpitos, cruzes, hinários, e bancos de madeiras? Temos música que seja inspiradora, contemporânea e que nos faz sentir bem? Nossos cantores são suficientemente profissionais? O estacionamento é grande para acomodar a todos? O sentimento das pessoas quando o culto termina é igual ou semelhante ao que sentem quando voltam para o hotel após terem passado o dia na Disneylândia? Esses são os mosquitos que coamos enquanto engolimos um monstruoso camelo!

    E o que é isso? O camelo é o fato, que sem nos darmos conta, temos deixado embarcar idéias que são inimigas da fé bíblica. O que quero dizer com isso? No Ocidente, estamos nos aprofundando cada vez mais numa moldura pagã de pensamento e essa moldura está produzindo a nossa cultura pós-moderna e suas manifestações públicas. Para uma igreja aceitar essas premissas só para se dar bem com a sociedade, e se dar bem para daí se tornar bem sucedida – na maioria das vezes resulta num híbrido não intencional que abraça os elementos pagãos (como a maneira pela qual a corrente da cultura opera e se dispõe a ser espiritual sem ser religioso). Será que é isso que devemos fazer?

    Certamente, em tudo que pensamos e agimos, da forma como vivemos e praticamos, devemos estar expressando qual deva ser a alternativa para a nossa cultura cada vez mais paganizada. A questão é menos sobre o que fazemos (Devemos usar bateria e power-point ou órgão e togas?) e mais sobre quem somos nós. Na nossa igreja, precisamos articular a cosmovisão que mantém o Deus triuno no centro, que tem a verdade como sua diretiva e sustentação, e que se expressa numa vida alegre de contracultura, onde quer que esteja o desafio moral e intelectual. O que isso significa é que nesta igreja nós nos manteremos como pecadores e nunca consumidores, recuperaremos a visão moral da vida, abandonando a visão terapêutica na qual a nossa cultura pós-moderna nos ilude.

    Vamos devotar nossas vidas para o que é eternamente certo e rejeitar todas as formas de relativismo. E estaremos perguntando não o que a igreja pode fazer por nós, mas o que podemos fazer por Cristo na igreja e no mundo despedaçado. O foco da questão é substância e não estilo; é sobre quem somos como povo, que pertence a Cristo, e não tanto sobre como parece e como soa. É sobre dar as nossas costas para o superficial e o da moda, e voltarmos nossa vida para Ele que é eterno e permanente.

    A situação hoje está de tal maneira, que se você realmente quer ver o que é superficial e da moda, basta ir a uma igreja evangélica de sucesso. Se você quer ver os mais habilidosos e malandros praticantes da terapia (o que Cristina Hoff Summers tinha em mente com seu livro “One Nation Under God: How the Helping Culture is Eroding Self-Reliance”), vá a uma igreja evangélica, quase qualquer uma, e você vai ver isso bem lá na frente, de maneira descarada e cínica. Como se isso fosse o que os apóstolos tinham em mente sobre o significado da fé Cristã! As coisas não deveriam ser assim.

    As igrejas evangélicas deveriam ser lugares onde achamos um caminho alternativo para se compreender o nosso mundo e saber como viver nele, um lugar que seja na sua profundidade o reflexo do Deus que é incomparável. Não uma mímica desbotada da cultura. Nós precisamos achar uma compreensão de vida, que esteja numa mesma medida moral e espiritual da vida que encontramos no local de trabalho e que ouvimos no jornal da noite na TV. Hoje as igrejas evangélicas são mais para pequenos pigmeus que vivem em terra de gigantes, sempre tentando jogar o jogo deles, se achando como gigantes também. Só que não o são. Chegou a hora de parar de fingir; a realidade bate à porta.

    P – Então que tipo de futuro você vê para a fé evangélica aqui na América?

    DW = O fato é que o cristianismo está desaparecendo do Ocidente; só por causa disso é o suficiente para sabermos que [nosso futuro] é incerto. Que será assim, é apresentado por Phillip Jenkins de forma inquestionável em seu livro ‘The Coming Christedom’. Não só a fé cristã está brotando forte fora do Ocidente desenvolvido, mas no Ocidente está declinando - na Europa de maneira catastrófica, um pouco menos na América. A fé cristã de um tipo bíblico tem tido dificuldades de se sustentar no meio das culturas modernas e pós-modernas. Essas dificuldades, em graus variados destriparam-na da igreja.

    As portas do inferno não prevalecerão contra a igreja. Isso é dado. Mas isso não quer dizer que Deus o Espírito Santo não se move para fora do Ocidente, para construir a igreja de Cristo. Na verdade, Ele está fazendo exatamente isso!

    A menos que os evangélicos americanos mudem seus caminhos e se arrependam de seu mundanismo, é exatamente isso o que prevejo cada vez mais para o futuro. E vamos ver que numericamente, as igrejas evangélicas estão se tornando a sombra do que uma vez foram.

    Viajo para a África todo o ano, porque sirvo na direção de uma fundação cristã que constrói orfanatos para crianças – a maioria abandonada por causa da AIDS. Fico sempre chocado com esse paradoxo, como se fosse assim como é. Aqui na América, temos tudo, mas apesar de termos tudo (Bíblias, templos, educação teológica, escolas, dinheiro, know-how), a igreja evangélica está fraca e cambaleante.

    Na África, no meio da grande pobreza e doenças, analfabetismo e privação, independência crescente e de tristes alianças com as religiões tradicionais de lá, ainda assim se acha coragem, vibração, e um testemunho cristão da verdade de Deus que supera os padrões do Ocidente. Não nos esqueçamos de quem salvou a Igreja da Inglaterra de sua patética disposição de capitular frente à agenda homossexual. Foram os bispos africanos, e não aqueles da América ou da Europa! Você bem sabe que Deus não tem suas mãos amarradas, simplesmente porque nós na América temos todo o dinheiro!